A pandemia do novo coronavírus vem submetendo a população mundial a um estado de alerta crônico, podendo afetar o funcionamento cerebral e o sistema imunológico. No entanto, Catherine Belzung, neurocientista francesa, professora da universidade de Tours, explica o porquê. Entenda o motivo da pandemia afetar nosso cérebro, alterando também nossa imunidade.
Como estão vivendo as pessoas pós confinamento?
Após um período de dois meses confinados, os franceses retomam aos poucos seus hábitos nas ruas, tomando cafés nos bares, passeando nos parques, fazendo compras ou indo ao barbeiro. Mas a vida voltou a ser o que era antes? Não. Foi preciso se acostumar com a máscara de proteção, manter a distância física e limitar os contatos com pessoas próximas. É preciso lembrarmos que a epidemia não chegou ao fim e o vírus ainda está em circulação.
Além disso, não é possível prever se haverá ou não uma segunda onda epidêmica como a ocorrida em março ou maio, período de confinamento. Essas possibilidades ativam o cérebro de maneira nociva, o deixando constantemente em estado de alerta.
Quais consequências nosso cérebro é submetido?
A cientista nos explica as consequências desse estresse crônico a médio e longo prazo afetam o nosso funcionamento cerebral. “Quando estamos diante de uma situação perigosa, temos uma série de regiões do cérebro que vão detectar esse perigo”, explica Catherine Belzung. Uma delas é a amígdala, que faz parte do sistema límbico. Ele gerencia, entre outras funções, nossas emoções e comportamento social.
O cérebro é ativado em permanência para sinalizar que existe um risco iminente. Há regiões, como o hipocampo, que atuam na memorização dessa situação de perigo e sua contextualização, outras, como a pré-frontal, que vão regular a resposta cerebral gerada pela amígdala e o hipocampo. A pesquisadora conta que, esse circuito de três regiões são essenciais para o equilíbrio do cérebro. “Quando a situação se torna crônica e se repete, começamos a observar mudanças no cérebro. As regiões pré-frontais serão menos eficazes e também há uma diminuição do volume”, explica.
Os danos enfraquecem a imunidade
Da mesma maneira, o estresse permanente também pode desencadear a produção de alguns tipos de hormônios, como o cortisol por exemplo. “Quando o estresse é crônico, o nível de cortisol não pode voltar ao estado inicial e continua elevado de forma permanente, porque não tem tempo de descer entre duas situações estressantes. Em um nível elevado de forma constante, ele é extremamente perigoso para o cérebro”, conta a pesquisadora.
Essa secreção excessiva a longo prazo gera a destruição dos neurônios do hipocampo, das conexões neuronais do córtex pré-frontal e ativa a amígdala. Outra consequência desse estresse crônico, paradoxalmente, é que ele enfraquece o sistema imunológico, o que predispõe os indivíduos a infecções e, portanto, ao coronavírus.
Cérebro também é alvo de estresse pós confinamento
Mas se engana quem pensa que esse tipo de estímulo nocivo termina com o fim do confinamento. O pós confinamento também é uma fonte de estresse, afirma, talvez até mais do que no período de confinamento, quando as famílias criaram uma espécie de “ninho” em casa. “Não voltamos à situação de antes. O mundo que conhecemos depois do confinamento não é o mesmo mundo de antes do confinamento. Andamos de máscara e respeitamos a distância física, além do risco que as pessoas têm de perder o emprego. Essa situação de fim de confinamento também é muito estressante”.
Da mesma forma que as notícias sobre o coronavírus ainda não são precisas, dia após dia os estudos avançam e estamos mais próximos de uma resposta. O Minuto Saúde e Bem-Estar está nessa luta com você e qualquer novidade, estaremos mantendo nossos leitores informados
Referencias: g1.globo.com/bemestar